domingo, 24 de agosto de 2014

Sobre Crianças Crescidas


Quando completei 20 anos eu achei que aquela seria a maior transição da minha vida. As responsabilidades aumentaram e em consequência disso 'o tempo ficou mais curto'. Dez anos depois, percebo que aquela não era nem de longe a maior transformação. Aconteceram muitas coisas nesse espaço de tempo. Muitas pequenas (e grandes) transformações.  Muitas coisas que me fizeram crescer e me tornar quem eu sou hoje. Existem alguns padrões comportamentais na sociedade que determinam que com 30 anos o 'aceitável' seria alguém casado (a) e com pelo menos um filho. Eu sou aquele tipo de pessoa que considero que fez tudo meio que fora da época: assumi responsabilidades na adolescência, casei cedo, na idade em que normalmente as pessoas se casam eu já estava me divorciando e estou 'curtindo a vida' agora, depois dos 30 (não que não tenha curtido antes, mas parece que agora algumas coisas são mais intensas): fazendo as coisas que eu gosto e que nem sempre (quase nunca) condizem com o que se espera de alguém da minha idade, de acordo com os padrões sociais. É como se tudo que você fizesse aos vinte e poucos por gostar e te fazer feliz e continua fazendo agora, depois dos trinta, deixasse de ter 'validade' ou passasse a ser 'inadequado' só porque o calendário aponta que se passaram alguns anos. Infelizmente, na maioria das mentalidades, o tempo cronológico sozinho é um determinante pra quase tudo. Resumindo: acredito que dá pra conciliar perfeitamente todo o aprendizado que a vida te proporciona e as responsabilidades que ela te impõe, com um lado mais criança, e que gosta de se divertir. O problema é justamente essa mania que as pessoas têm de estipular 'idade certa' pra tudo. Quem pensa assim, se por acaso não fez algo que gostaria na 'idade certa', não fará nunca e vai passar a vida frustrado por isso ou pior: depositar nos filhos as suas expectativas, como se eles fossem extensão de si (muita gente faz isso e não permite que seus filhos tenham suas próprias escolhas. Lamentável). Sempre ouvi falar nessa tal Síndrome de Peter Pan e achava que me encaixava nela, até que li melhor a respeito. Não existem evidências de que seja necessariamente um distúrbio psicológico, muito embora alguns comportamentos dos que a apresentam possam ser prejudiciais.  Mas é aí que está a diferença: pessoas com a síndrome não assumem responsabilidades e são manipuladoras e dependentes. Responsabilidade é uma palavra que começou a fazer parte da minha vida muito cedo; Independência é algo que já comecei a conquistar faz tempo, e hoje posso me dizer plenamente independente. Sobre questões emocionais, todo mundo tem uma ou outra com as quais não conseguem lidar, pra isso existe terapia, e por falta de uma psicóloga, agora eu tenho duas, rs. Ah, e nenhuma delas acredita nessa coisa de 'tem idade certa pra fazer cosplay, pra ir em shows, pra usar a camiseta da sua banda favorita quando der vontade', nem que quem faz isso necessariamente tem problemas psicológicos ou é imaturo. E por falar em cosplays, é realmente muito bacana chegar nos eventos e ver pessoas de todas as idades se caracterizando de seus personagens favoritos; crianças, adolescentes e pessoas mais velhas; pais e filhos; todos se divertindo, e é isso o que importa: ser feliz fazendo o que gosta. Ouço muita gente dizer que uma pessoa só amadurece de verdade depois que se torna pai/mãe: nem sempre; aliás, tenho visto que em muitos casos é exatamente o contrário: tá cheio de pais e mães irresponsáveis e negligentes, sem falar nos que largam os filhos para as avós criarem (sou educadora e lido com essa realidade, posso dizer com propriedade). Portanto: maturidade é algo relativo e criança interior, todo mundo tem uma, seja pelas dificuldades internas não resolvidas e alguns traumas, seja pelo lado que gosta de se divertir e assistir desenhos, jogar vídeo game, etc. Esse lado, o da diversão, o da alegria que toda criança tem diante das coisas mais simples, o do entusiasmo infantil, é o que não deveria morrer nunca. Aos 18 anos eu decidi que não queria me tornar uma 'adulta chata', estou cumprindo bem a missão que me dei. E pagando as minhas próprias contas, obrigada, de nada. Ok, eu sou chata pra caramba sim, principalmente na TPM, haha mas me refiro àquela seriedade excessiva, sabe? Crescer dói sim. Rolam muitas lágrimas, sensação de tempo perdido, dúvidas, a gente titubeia pra caramba, pensa em desistir, tem vontade de jogar tudo pro alto, briga, se estressa, se fecha. Mas a gente aprende, e aprende principalmente que o que somos é um problema nosso e o que os outros acham disso é problema deles. E que muita gente que julga nos conhecer não conhece nem a terça metade do caminho que a gente percorreu pra chegar até aqui. Crescer não é fácil, e é por isso que a nossa criança interna tem esse papel tão importante: o de não nos deixar pirar diante das pressões da vida adulta. É como diz na música dos Selvagens: "Crescer dói, mas essa é a história de todos os heróis."