quarta-feira, 20 de julho de 2011

Aos Patinhos Feios



Ainda ontem eu me peguei [re]fazendo uma constatação que, confesso, incomodou um pouco a mim também: implico muito, entre outras coisas, com  meu tipo físico. Pra quem já me conhece há certo tempo isso não é novidade. Pasmem, não me venham com aquele papinho de 'eu me amo', que isso sim me soa como complexo, e camuflado, o que é pior. Pode até ser que exista alguém que esteja 100 % satisfeito consigo mesmo, mas eu duvido. Duvido um pouco pra não me sentir muito solitária com essa minha auto-rejeição, mas principalmente pelo fato social. Simplificando, e exemplificando com elementos presentes na nossa cultura: alguém disse que bonito é ser alta, magra e branca. Tudo que é estrangeiro é 'melhor'. Cabelo bom é cabelo liso. Símbolo de masculinidade são músculos. São diversas crenças construídas historicamente nas quais muitos de nós acreditamos piamente, ainda que inconscientemente. Crescemos ouvindo que se uma garota não for bonita (nem me venha relativizar as coisas aqui),  tem que ser inteligente. Existem infinitos fatores que permeiam o conceito de beleza e o conceito de inteligência, ainda que estes sofram algumas pequenas variações de acordo com o lugar e/ou época. Muita gente acaba sendo patinho feio, no fim das contas. A diferença é que nem todos se descobrem cisnes no final. Enfim, só pra frisar que o importante é se adaptar, ou ficar à margem. Radicalzinho isso, mas não deixa de ser frequente. Me assumo como uma daquelas pessoas que criticam os padrões mas acabam tentando se encaixar em muitos. Ou eu não faria dietas nem editaria minhas fotos. Pergunte-se quantas pequenas atitudes você já tomou, quantas pequenas mudanças você já fez, seja por um emprego, por haver ouvido uma crítica, pra agradar alguém, pra se sentir mais bonito ou mais bonita, analise a relação que isso tem com a sua própria vontade e com o desejo, intrínseco, de ser aceito, de alguma forma. O fato é que é um tanto difícil admitir isso, afinal, a sociedade exige que sejamos a segurança, a auto confiança em pessoa, que sejamos sempre muito bem resolvidos, obrigada! Que nos amemos! Daí ficam aquelas contradições, todo mundo concorda que é bonito se amar, se aceitar, mas todo mundo termina concordando com o que a mídia, a indústria da moda impõe quando o assunto é beleza, todo mundo procura, de alguma forma, se adequar. Há coisas que parecem muito simples de ser superadas, mas têm determinada força sobre muitos de nós. É aquela historinha clichê de que quem tem cabelo enrolado quer alisar, quem tem liso quer enrolar, gente que fica torrando no sol pra ficar com outra cor e gente sendo vítima de preconceito justamente por causa da cor da pele. Porque alguém determinou, um monte de gente concordou e isso tudo vai ficando enraizado, vai sendo disseminado e passado de geração pra geração, e tudo baseado em quê? Aparência. Posição. Reputação. Fugazes, finitos. Quanto tempo a gente perde gastando a melhor parte das nossas energias com isso. Chega a ser mecânico, muitas vezes. Excluir. Se excluir. Bullying, por exemplo, começa na infância e tem seus picos entre os adolescentes, porque é esse o comportamento que se aprende a reproduzir: hostilizar o diferente, o que não está dentro dos padrões. E fica até um pouquinho difícil distinguir se a maior violência é aquela cometida contra os outros ou a que se comete consigo mesmo, em nome de uma igualdade que, na real, nunca existiu, em nome de um patamar que, na real, ninguém consegue alcançar: a chamada perfeição. Somos inacabados, imperfeitos e finitos. Esse poderia ser o maior tapa na cara de quem determinou/ determina todos esses padrões, mas há quem lucra com eles, então somos nós quem levamos o tapa sem notar. E é isso que deveríamos levar em consideração quando nos esforçamos inutilmente pra nos adequar. Fácil falar.

Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; 
repugna-la-íamos, se a tivéssemos. 
O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito.
Fernando Pessoa