Quando completei 20 anos eu achei que aquela seria a maior transição da minha vida. As responsabilidades aumentaram e em consequência disso 'o tempo ficou mais curto'. Dez anos depois, percebo que aquela não era nem de longe a maior transformação. Aconteceram muitas coisas nesse espaço de tempo. Muitas pequenas (e grandes) transformações. Muitas coisas que me fizeram crescer e me tornar quem eu sou hoje. Existem alguns padrões comportamentais na sociedade que determinam que com 30 anos o 'aceitável' seria alguém casado (a) e com pelo menos um filho. Eu sou aquele tipo de pessoa que considero que fez tudo meio que fora da época: assumi responsabilidades na adolescência, casei cedo, na idade em que normalmente as pessoas se casam eu já estava me divorciando e estou 'curtindo a vida' agora, depois dos 30 (não que não tenha curtido antes, mas parece que agora algumas coisas são mais intensas): fazendo as coisas que eu gosto e que nem sempre (quase nunca) condizem com o que se espera de alguém da minha idade, de acordo com os padrões sociais. É como se tudo que você fizesse aos vinte e poucos por gostar e te fazer feliz e continua fazendo agora, depois dos trinta, deixasse de ter 'validade' ou passasse a ser 'inadequado' só porque o calendário aponta que se passaram alguns anos. Infelizmente, na maioria das mentalidades, o tempo cronológico sozinho é um determinante pra quase tudo. Resumindo: acredito que dá pra conciliar perfeitamente todo o aprendizado que a vida te proporciona e as responsabilidades que ela te impõe, com um lado mais criança, e que gosta de se divertir. O problema é justamente essa mania que as pessoas têm de estipular 'idade certa' pra tudo. Quem pensa assim, se por acaso não fez algo que gostaria na 'idade certa', não fará nunca e vai passar a vida frustrado por isso ou pior: depositar nos filhos as suas expectativas, como se eles fossem extensão de si (muita gente faz isso e não permite que seus filhos tenham suas próprias escolhas. Lamentável). Sempre ouvi falar nessa tal Síndrome de Peter Pan e achava que me encaixava nela, até que li melhor a respeito. Não existem evidências de que seja necessariamente um distúrbio psicológico, muito embora alguns comportamentos dos que a apresentam possam ser prejudiciais. Mas é aí que está a diferença: pessoas com a síndrome não assumem responsabilidades e são manipuladoras e dependentes. Responsabilidade é uma palavra que começou a fazer parte da minha vida muito cedo; Independência é algo que já comecei a conquistar faz tempo, e hoje posso me dizer plenamente independente. Sobre questões emocionais, todo mundo tem uma ou outra com as quais não conseguem lidar, pra isso existe terapia, e por falta de uma psicóloga, agora eu tenho duas, rs. Ah, e nenhuma delas acredita nessa coisa de 'tem idade certa pra fazer cosplay, pra ir em shows, pra usar a camiseta da sua banda favorita quando der vontade', nem que quem faz isso necessariamente tem problemas psicológicos ou é imaturo. E por falar em cosplays, é realmente muito bacana chegar nos eventos e ver pessoas de todas as idades se caracterizando de seus personagens favoritos; crianças, adolescentes e pessoas mais velhas; pais e filhos; todos se divertindo, e é isso o que importa: ser feliz fazendo o que gosta. Ouço muita gente dizer que uma pessoa só amadurece de verdade depois que se torna pai/mãe: nem sempre; aliás, tenho visto que em muitos casos é exatamente o contrário: tá cheio de pais e mães irresponsáveis e negligentes, sem falar nos que largam os filhos para as avós criarem (sou educadora e lido com essa realidade, posso dizer com propriedade). Portanto: maturidade é algo relativo e criança interior, todo mundo tem uma, seja pelas dificuldades internas não resolvidas e alguns traumas, seja pelo lado que gosta de se divertir e assistir desenhos, jogar vídeo game, etc. Esse lado, o da diversão, o da alegria que toda criança tem diante das coisas mais simples, o do entusiasmo infantil, é o que não deveria morrer nunca. Aos 18 anos eu decidi que não queria me tornar uma 'adulta chata', estou cumprindo bem a missão que me dei. E pagando as minhas próprias contas, obrigada, de nada. Ok, eu sou chata pra caramba sim, principalmente na TPM, haha mas me refiro àquela seriedade excessiva, sabe? Crescer dói sim. Rolam muitas lágrimas, sensação de tempo perdido, dúvidas, a gente titubeia pra caramba, pensa em desistir, tem vontade de jogar tudo pro alto, briga, se estressa, se fecha. Mas a gente aprende, e aprende principalmente que o que somos é um problema nosso e o que os outros acham disso é problema deles. E que muita gente que julga nos conhecer não conhece nem a terça metade do caminho que a gente percorreu pra chegar até aqui. Crescer não é fácil, e é por isso que a nossa criança interna tem esse papel tão importante: o de não nos deixar pirar diante das pressões da vida adulta. É como diz na música dos Selvagens: "Crescer dói, mas essa é a história de todos os heróis."
domingo, 24 de agosto de 2014
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Sobre 'Querer Estar Preso Por Vontade'
Começo minhas considerações com um dos versos de Camões para falar sobre esse sentimento tão comum nas relações humanas: o ciúme. Entre as muitas explicações existentes para ele, uma das mais 'votadas' é certamente a falta de auto-confiança. Acho interessante a maneira de culpabilizar a pessoa que sente ciúme. Primeiro, porque não sendo um sentimento agradável, acho pouco provável que alguém o cultive por gosto. Segundo e não menos importante, é que são desconsideradas as razões que levam a pessoa a senti-lo, demonstrá-lo. Acho interessante a maneira como se absolve a pessoa que provoca o ciúme. Por meio de atitudes muitas vezes intencionais, sim. 'O ciumento cria situações'. Nem sempre. Não acredito que determinados pensamentos possam surgir do nada, sem que houvessem motivos, comportamentos, algo que desencadeou isso. Simplesmente se desconsidera que vivemos num mundo de pessoas 'fracas'. Fracas porque são escravas da aprovação alheia, dos impulsos, e alegam ter consigo valores que, será que existem? Ou será que só são coisas ditas para impressionar e causar uma boa impressão? São escravas do próprio ego e da imagem que acham que devem passar, não conseguem ser verdadeiras nem consigo mesmas. Ok, somente sabemos como vamos agir quando estamos diante das situações, mas há coisas que podem perfeitamente ser evitadas. Afinal, quando uma pessoa decide se relacionar com outra e manter o relacionamento, é por vontade própria e não porque alguém colocou uma arma em sua cabeça e a obrigou. Assim, existem combinados, acordos, aliás, que acredito que se de fato exista amor e compromisso, algumas atitudes acontecem naturalmente, sem necessitar de acordos ou cobranças. Fracas porque, dependentes da aprovação dos outros, cedem às pressões, e só 'resolvem' perceber que fizeram besteira depois de já haverem feito. Vivemos uma realidade onde as pessoas têm caráter duvidoso. Duvidoso porque fazem com os demais exatamente o que não querem que seja feito com elas e arranjam explicações e justificativas pra isso. Vivemos numa cultura que define canalhice como 'predeterminação biológica', até. Como se as pessoas não fossem responsáveis por suas escolhas, por seus atos. Pergunte a uma pessoa o que espera de alguém e certamente a característica fidelidade estará no meio (a não ser que a pessoa seja adepta aos relacionamentos abertos ou não se importe com isso). Mas ao serem questionadas quanto à própria orientação sexual, cedem porque têm necessidade de provar pra outra pessoa que estão convictos (as). Das duas, uma: ou a pessoa não é convicta coisíssima nenhuma da própria orientação sexual e precisa provar até pra si mesmo, ou isso é só mais uma desculpa visando sua defesa. Acredito que se você está com alguém que ama e te completa, é essa pessoa que tem que saber sobre sua orientação, é ela que importa que saiba. Medo de boatos? Conta outra. Vivemos uma realidade de pessoas que fingem estar preocupadas com a diversão, liberdade e bem estar do (a) amiguinho (a), mas não sei até que ponto isso é despeito por não ter um relacionamento ou vontade de ver o circo pegar fogo disfarçada de amizade. Amizade que valha a pena respeita suas escolhas, mesmo quando elas não estão incluídas nelas em dados momentos. Mas independente disso, é você quem é responsável pelas suas decisões, pelas mentiras que decide contar e as mágoas que decide causar. Primeiramente pra si mesmo, pois acho covardia mentir e trair, sim: covardia. Se sente vontade de ficar com outras pessoas, de ter outras experiências, é mais digno terminar a relação antes. Mas enfim, só a minha opinião. Existem as situações doentias e existem as situações provocadas. Vivemos numa cultura monogâmica e isso tem implicações desde sempre nas nossas convicções e sentimentos. Que Raulzito me perdoe, gosto muito das letras dele, mas essa história de 'quem gosta de maçã irá gostar de todas, porque todas são iguais' pra mim não serve. Até porque existem maçãs de vários tipos, tamanhos e até de cores diferentes, portanto nem mesmo elas são todas iguais. E quem é que quer ser colocado (a) numa prateleira de coisas iguais? Enfim, percebo que é fácil olhar sempre um dos lados, o mais divulgado, o que beneficia mais as pessoas que o defendem sem considerar o lado das demais, essas demais, a quem se diz amar. Não que existam fórmulas prontas, mas acredito na regra básica: você sabe o que vai ferir a outra pessoa, então: ou não faça ou rompa com ela antes de fazer. Existem diversas soluções pra quem não curte esse lance de ter uma pessoa só: não ter relacionamento sério; procurar alguém que curta relacionamento aberto (aceite o fato de que você não é melhor que ninguém, e que os direitos são iguais); ou se mude para um país de cultura poligâmica e fica tudo certinho. Um relacionamento sem reciprocidade fica difícil de dar certo. Afinal, como disse Camões: 'é querer estar preso por vontade'. Se te faz feliz, não vai soar como 'estar preso (a). Mas se não quer mais, liberte-se e poupe a outra pessoa de uma dor desnecessária.
Assinar:
Postagens (Atom)