sexta-feira, 7 de maio de 2010

Esse jeito errante de ser...


As relações interpessoais às vezes me parecem tão desgastantes que eu fujo delas das maneiras mais simplórias como sentar no banco individual do ônibus com o fone no ouvido, em companhia das músicas que aliviam o fardo pesado do dia-a-dia. Como costumo dizer por aí, sou uma pessoa que erra pra caramba e reflete muito sobre esses erros. Sou a própria imperfeição em meio a esse amontoado de gente perfeita que me rodeia. É impressionante a capacidade de auto-promoção das pessoas...o problema é que, na grande maioria das vezes, é tudo propaganda enganosa- é preciso estar atento, porque não tem PROCON pra resolver esses casos.
Vivemos numa época em que os personagens predominam- a imagem que as pessoas passam raramente condiz com quem são. Esforçam-se tanto para mostrar o acerto, a perfeição, a excelência, a ausência de falhas...que é como aquelas pessoas que editam tanto as fotos que você já não consegue sequer visualizar a feição delas. Talvez no dia em que inventarem um espelho que mostre o subconsciente negro de cada um claramente, quem sabe as pessoas comecem a perceber que só estão enganando a si mesmas.
No mundo virtual então, o culto ao ego fica ainda mais claro: todos perfeitos. Comunidades do tipo: "Os mais blá blá blá do blá", "Eu não arraso, eu humilho", "Nossa, tudo isso é inveja?", que explicitam nitidamente os complexos que essas pessoas guardam, usando esse tipo de chavão como auto-defesa. Ok, todos nós temos as nossas auto-defesas, nossos momentos de necessidade de auto-afirmação. Inclusive eu, é claro. Estou me auto-afirmando quando digo que erro. A questão é: matéria finita que somos, tão frágeis...onde leva essa briga inútil pelo título de "melhor"? O que leva uma pessoa a se sentir confortável diminuindo outra? Isso mostra que está bem resolvida consigo, será mesmo? Sabe aquele ditadinho, "você aponta um dedo pro outro e tem quatro apontando pra você"? Pois bem. É sempre mais fácil esconder suas vulnerabilidades enfatizando as falhas alheias e se colocando num posto supostamente superior. O pior é que, tendo consciência de que tanta perfeição é só fachada, ainda assim entro em conflito e me faço a mesma pergunta que Fernando Pessoa se fez: "Será que sou só eu que é vil e errôneo neste mundo?" Desculpem, mas não consigo ser hipócrita e tão desonesta comigo, a ponto de agir como quem não tem faltas. Há quem diga que eu "faço um marketing ruim de mim mesma". E eu digo: não faço "marketing". Me apresento tal como sou e não gosto que me idealizem. Acho que essa frase da Clarice Lispector cabe: "Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso: nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro." E a mim parece mais sensato não dizer nada e deixar que simplesmente convivam comigo e me conheçam, mas há sempre a necessidade de definições por parte de muitas pessoas. Para tentar suprir isso, muitas vezes uso frases e trechos de música nos quais encontro fragmentos de mim...e em nenhum deles consta esse idealismo sustentado pela mídia, pela moda, pela sociedade de um modo geral e seguido a risca... Não me pergunte por que, mas parece que tudo que está meio que ao avesso do que todo mundo quer/ espera/ gosta me chama a atenção.
Parece que soa bem mais verdadeiro, sabe? As músicas com críticas consistentes aos males diversos da sociedade, sim, aquelas que a retratam nua e crua, sem palavras bonitinhas. Isso também vale pra literatura...e as pessoas que se indignam e expressam suas revoltas, aquelas que mesmo sendo alvo de críticas, lutam por uma causa, remam contra a corrente e falam na lata o que pensam sobre os absurdos que a gente presencia em todos os setores sociais... essas me encantam! Enfim: cada um tem lá suas causas, que os levam a agir de determinados modos, seja por condicionamento ou não. A única coisa que eu peço é: me deixem errar em paz. Me deixem aqui, sendo a pessoa errante que sou, porque estou satisfeita assim. Não quero mudar pra caber naquilo que esperam de mim. Não quero caber na "perfeição" de ninguém. Eu assumo meus erros como parte de mim que são, tento melhorá-los, mas tenho consciência de que não vou chegar nesse pedestal supremo e ilusório que a maioria almeja. E é pra isso que muita gente precisa acordar. Mas se querem permanecer no sono profundo, que permaneçam, ok, direito de cada um. Só não tentem me convencer de nada disso. Porque esse jeito errante de ser é muito meu...e eu o assumo!


"Sou errada, sou errante, sempre na estrada, sempre distante...
Vou errando enquanto o tempo me deixar!"

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Equilíbrio Distante


Mania de exagero. Mania de querer sempre mais. Mania do descontentamento, mania de sentir as coisas com uma intensidade bem maior do que as pessoas ao meu redor. Faz parte de quem sou essa eterna insatisfação. Não consigo discernir até que ponto isto é bom/ ruim. Se por um lado o comodismo e a apatia me causam certa repugnância, por outro lado, essa busca perturbadora pelo que quer que seja me rouba a tranquilidade. Há sempre alguma coisa me "cutucando", me provocando reações. E não consigo me expressar no meio termo: as coisas saem de mim tal como surgem. Com a mesma fúria, com a exata indignação, minhas emoções equivalem à maneira como são expressas, e não sinto necessidade de mascará-las. Que fazer se a intensidade com a qual vejo, percebo e sinto tudo surge em mim como um "tsunami arrasador"? Não conheci ainda, maneira mais eficiente de me livrar do que dói, do que incomoda, do que colocar pra fora. Seja num velho caderno, num website ou "com a boca no trombone", tudo aquilo que perturba e tira o sono tem de ter sua vontade obedecida e ser expresso. E eu não abro mão de registrar o que se passa dentro e fora de mim. Não importa que o "politicamente correto" possa soar mais adequado. Que seja mais viável falar da alegria cega, surda e muda de um país caótico e em ruínas, de um mundo que há muito tempo tem estado distante de qualquer forma de equilíbrio. Sou sincera comigo mesma e com quem me lê. Posso até parecer pessimista, mas descrevo o que é real. Que fazer se a realidade se apresenta péssima aos nossos olhos, dia após dia? Fingir que está tudo perfeito, que eu não tenho nada a ver com isso e permanecer sentada, a espera de milagres? Não preciso agir assim, já tem gente demais fazendo isso. E não sou eu quem vou mentir pra mim.


"Se nada de estranho te surpreendeu durante o dia,
é porque não houve dia."

(John Archibald)