quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Equilíbrio Distante


Mania de exagero. Mania de querer sempre mais. Mania do descontentamento, mania de sentir as coisas com uma intensidade bem maior do que as pessoas ao meu redor. Faz parte de quem sou essa eterna insatisfação. Não consigo discernir até que ponto isto é bom/ ruim. Se por um lado o comodismo e a apatia me causam certa repugnância, por outro lado, essa busca perturbadora pelo que quer que seja me rouba a tranquilidade. Há sempre alguma coisa me "cutucando", me provocando reações. E não consigo me expressar no meio termo: as coisas saem de mim tal como surgem. Com a mesma fúria, com a exata indignação, minhas emoções equivalem à maneira como são expressas, e não sinto necessidade de mascará-las. Que fazer se a intensidade com a qual vejo, percebo e sinto tudo surge em mim como um "tsunami arrasador"? Não conheci ainda, maneira mais eficiente de me livrar do que dói, do que incomoda, do que colocar pra fora. Seja num velho caderno, num website ou "com a boca no trombone", tudo aquilo que perturba e tira o sono tem de ter sua vontade obedecida e ser expresso. E eu não abro mão de registrar o que se passa dentro e fora de mim. Não importa que o "politicamente correto" possa soar mais adequado. Que seja mais viável falar da alegria cega, surda e muda de um país caótico e em ruínas, de um mundo que há muito tempo tem estado distante de qualquer forma de equilíbrio. Sou sincera comigo mesma e com quem me lê. Posso até parecer pessimista, mas descrevo o que é real. Que fazer se a realidade se apresenta péssima aos nossos olhos, dia após dia? Fingir que está tudo perfeito, que eu não tenho nada a ver com isso e permanecer sentada, a espera de milagres? Não preciso agir assim, já tem gente demais fazendo isso. E não sou eu quem vou mentir pra mim.


"Se nada de estranho te surpreendeu durante o dia,
é porque não houve dia."

(John Archibald)

10 comentários:

me. disse...

Confesso que só li a frase do John no final... mas só porque isso me custou vastos minutos de reflexão! Achei o clima aconchegante prometo que volto e leio tudo ;]

Luiza disse...

a frase final diz tudo.
to seguindo.
;*

Deftones disse...

Eu acho, Mari, que a gente vive num tempo em que as pessoas precisam ser provocadas. Deve ser por isso que fui tão rude naquela postagem sobre Twitter/Formspring, pois mesmo que eles sejam mesmo inofensivos, a menção a eles precisava ser bem direta ao ponto. Mas eles são apenas a mostra de uma condição de apatia que é muito maior. Eu não nutro simpatia por entretenimentos bobos sobretudo porque entendo isso que tu escreve, essa coisa de ter o emocional latente, de se relacionar passionalmente com as coisas que a rodeiam, de não conseguir criar um distanciamento tal com os problemas que existem como gosta de fazer a maioria silenciosa (aquela orgulhosa de não ter vontade de gritar). Se as pessoas não ouvem, ou talvez não acreditem mais, nos discursos, elas precisam ser chocadas de alguma maneira, elas precisam ser confrontadas com a realidade, e não é com Jackass ou com Pânico na TV que isso acontecerá. E é por isso que sempre me identifiquei profundamente com o que você escrevia e escreve, porque não vejo um esforço para parecer pasteurizado e higienizado, como se emergisse uma vergonha de expressar o que de fato se sente. O que vale na sinceridade é percebermos que a introspecção, por mais que seja algo particular de cada um, tem muito do mundo lá fora. Ter consciência daqueles males que vêm junto com comportamentos tão condenáveis quanto o comodismo é o passo principal, é o elemento que nunca pode ser esquecido ou ignorado. Nunca se pode perder de vista um olhar duro sobre o que nos atinge, pois a História mostra que ser complacente com o caos nunca resolveu nada. E o baixoastral que se abate sobre quem tem alguma sensibilidade nesse tempo de pessoas envernizadas não pode mesmo ser reprimido. Assim como você, poderiam dizer que sou pessimista. Há quem leia meu(s) blog(s) e não encontre um texto alegre sequer. Não é que eu seja sempre assim tão ranzinza; é que eu acho que aquele espaço é para outra coisa.

Tu poderia ter alongado o texto, aposto que teria muito mais a dizer nele mesmo. Mas eu já me acostumei. Ler o que tu escreve, por extenso ou curto que seja (ou que assim eu interprete), deixa sempre no final a sensação de querer mais. Não conheço os textos de baixo, só os vi por cima... vou ver se dá tempo de ler e comentar agora (levo muito tempo nesse processo). Até mais ver.

Jaime Guimarães disse...

Em tempos de tantas máscaras e tanto superficialismo, é ótimo que as emoções venham à tona, mesmo que isso cause algum estranhamento ao redor.

Porque é desta forma: as pessoas agem rotineiramente, como máquinas e preferem que as coisas continuem na inteira "rotina", previsível. Quando se permitem emotividades, se bloqueiam - esta é "calculada".

Estamos retornando às cavernas, como diria Platão.

Bj!

Mari ♥ disse...

Leon e jaime: os comentários de vocês enriquecem este espaço!
Convivo com a solidão existencial de quem é taxada de "revoltada" pra baixo quando se indigna com os absurdos que nos batem na cara todos os dias e querer mudar as coisas então, é como ser Dom Quixote aos olhos da maioria (é, a silenciosa, orgulhosa de não ter vontade de gritar, nada pra dizer)! E saber que mais pessoas entendem o que quero dizer me faz sentir um certo alívio!

Carina Reckelberg disse...

noosa...amei o blog! amei o post!!!

;*

A Desbocada disse...

Já sofri muito por não mascarar minhas opiniões. Não aceito rótulos impostos por uma sociedade hipócrita e alienada. Mas não tem jeito, as vezes por proteção tem que se mascarar... O tempo me ensinou a usar esse "recurso" com equilibro e sabedoria.
Como disse Jaime (que citou Platão)estamos voltando as cavernas.
Beijos
Adorei o blog!

NUMEROLOGIA E PROSPERIDADE disse...

Boa tarde.
Bela postagen, pena que tenho de correr por
causa do tempo, ainda tenho de visitar outras pessoas.
Passando para dar uma espiada nas novidades e dar os parabéns pelo dia de hoje.
Desculpe a minha ausência esta semana, mas estou sem internet, tendo que recorrer a uma
lanhouse. Não gosto muito de recorrer a estes lugares, mas... fazer o quê. Para quem mora dentro do mato como eu, é a única opção no momento, assim mesmo muito lenta.
Não sei por quanto tempo vou ficar sem
conexão, o 3G apresentou um problema e estou
aguardando uma solução (sentada porque em pé
vai cansar ).
FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER... aproveita para desejar um bom final de semana.
Saudações Florestais !
em http://www.silnunesprof.blogspot.com

Ivy F. disse...

Então vamos nos empenhar a realizar algo surpreedente pra fazer valer a pena levantar da cama pra mais um novo dia? E valeu pela sinceridade... ;D Só volte a postar, que tal? XD

Paloma disse...

Simplesmente bárbaro! Contemplo contigo esse vazio... essa falta de esperanças... Adorei suas palavras!